domingo, 30 de agosto de 2009

LIDER DE UM POVO VACINADO

Assim era Oswaldo Cruz...

Ele enfrentou quebra-cabeças e ameaças de golpe por defender um conceito diferente de saúde.

Foi vilão da e uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil. Patrono do nosso templo da ciência, descartou técnicas ultrapassadas para combater doenças. Foi pioneiro ao observar a saúde alem dos pequenos limites da capital federal. Perdeu batalhas mas ganhou a guerra.

Estamos falando de Osvaldo Cruz!

No começo do século 20, acreditava-se que o ar proveniente de lugares sujos ou com água parada era causa de epidemias. Por isso, destruir cortiços e moradias populares parecia a solução ideal para o Rio de Janeiro – “túmulos de estrangeiros”, uma cidade doente, com alta mortalidade por febre amarela.

Assim que assumiu a Diretoria Geral da Saúde Pública, Oswaldo Cruz rejeitou as praticas vigentes e apostou na teoria de um especialista cubano: os mosquitos são os verdadeiros transmissores e deve ser exterminados. Alem disso, passou a escrever a coluna Conselhos ao Povo, nos jornais e a distribuir folhetos educativos sobre a doença. Depois foi a caça de ratos para combater a peste bubônica. Chegou a instituir os funcionários públicos para comprar os pequenos roedores capturados na cidade – e é claro que alguns espertinhos logo trataram de criar seus próprios ratos para vender ao governo. Era chamado de “czar dos mosquitos”, entre outras ironias, e contava com poucos recursos. Tornar obrigatória a vacina contra a varíola foi a gota d´agua. Ninguém queria “perder o direito a liberdade”, “ser espetado a força”, receber um liquido desconhecido nas veias.

Insuflada, a população saiu às ruas, virou bondes, quebrou lampiões. Era a revolta da vacina, uma das mais marcantes revoltas populares do Brasil, ocorrida em 1904.O médico sanitarista certamente se sentiu injustiçado. Ele que, apesar das terríveis náuseas , tinha ido de navio a 30 portos do Pais estudar as doenças que chegavam pelo mar ou pelos rios. Mas as insatisfações refletiam a situação geral da cidade. O presidente Rodrigues Alves promovia uma reforma apelidada de “bota a baixo”. Para fazer da capital uma cidade moderna, brigadas do governo destruíam cortiços e bairros pobres sem preocupação alguma com o futuro dos despejados, que iam ajeitando-se pelos morros.A oposição política e a escola militar, interessadas num golpe, engrossaram a massa desconexa de revoltosos. O governo controlou a rebelião, mas teve que revogar a lei da imunização. Apesar disso, o Diretor Geral da Saúde foi mantido no cargo. Chegaria o dia em que receberia os devidos créditos pelo seu trabalho.

INICIO DE CARREIRA
Oswaldo Cruz sempre foi interessado e entusiasta de novas técnicas. Quando nasceu , em 5 de agosto de 1872, o pai Bento era um jovem médico em começo de carreira. Aos 14 anos, o filho ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tornou-se doutor aos 20 anos de idade, no mesmo dia em que Bento morreu. Dedicou a ele a tese sobre microorganismos aquáticos. Depois pôde conhecer mais sobre microbiologia com incentivo do sogro que financiou uma estada em Paris. Encantou-se com os laboratórios Pasteur e estagiou numa fábrica de ampolas, provetas e pepetas para produzi-las no Brasil.Entretanto, outra técnica de Pasteur foi essencial para a sua volta em 1899. A peste bubônica havia chegado ao porto de Santos com as pulgas dos ratos de um navio cargueiro estrangeiro. O governo federal criou o Instituto Soroterápico e, com Oswaldo Cruz na direção técnica, o País passou a produzir um soro que até entao era exclusividade da Franca.

TEMPLO DEA CIÊNCIA
Em 1903 foi nomeado para a cadeira correspondente ao atual Ministério da Saúde, mas não deixou a direção do Instituto. Lá formou uma bela equipe, trabalhou com outras sanitaristas à frente do seu tempo, como Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Vital Brasil. Uns haviam diagnosticado a peste em Santos; outros, se submetido ao Aedis Aegypti para provar que era ela que transmitia a febre amarela. Ainda hoje, com nome de Fundação Oswaldo Cruz, ou Fiocruz, a instituição é um templo da ciência e tecnologia da saúde. O primeiro diretor fez das precárias instalações de Manguinhos um Castelo. Ele mesmo desenhou o esboço do prédio mourisco, que podia ser visto pelos navios que passavam pela cidade.Em 1908, enquanto uma marchinha de Carnaval declarava o Rio “cidade maravilhosa”, o Instituto Soroterápico virava Instituto Oswaldo Cruz. Sinal dos novos tempos. A febre amarela e a peste bubônica estavam praticamente erradicadas. Uma ano antes o Brasil fora o único participante sul-americano do Congresso de Higiene e Demografia de Berlim. A delegação apresentou estudos da equipe de Oswaldo Cruz e voltou aplaudida no proto, com medalha de ouro.Nesta época, Oswaldo Cruz já era visto como herói, mas tinha dificuldades em aprovar seus projetos na Diretoria da Saúde. Como o combate a tuberculose, doença que matava apenas os pobres. Optou por dirigir sõ o instituto que leva seu nome.

Foi à “ferrovia do diabo”, a madeira-marmoré, na qual os trabalhadores morreram infectados por malária. Supervisionou inúmeras expedições para lugares afastados dos centros: Tocantins, Ceará, bacia do Amazonas, do São Francisco. Nascia o Movimento Sanitarista, defendendo o saneamento nos grotões do País. Um dos líderes, Monteiro Lobato, até refez a imagem de Jeca Tatu. Ele não era preguiçoso. Estava doente.

Oswaldo Cruz também na andava bem de saúde. Sofria de nefrite, a mesma doença que matou o pai. Já tinha até escolhido o local de seu jazigo. Teve tempo ainda de ser prefeito de Petrópolis e traçar uma plano de erradicação da saúva antes de morrer em 1917, aos 44 anos. Se quase um século depois é comum que o brasileiro previna-se de doenças com uma injeção, um dia essa idéia pareceu absurda. Oswaldo Cruz perdeu batalhas, mas ganhou a guerra.(Fonte: Almanaque Brasil - numero 124 – Maio 2009)

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